O meu problema é ter a cabeça vazia. Acontece-me com frequência – ou será melhor dizer amiúde? – às segundas-feiras. Chego a certa hora e o que, de manhã, tinha dentro dela desaparece. O processo é outro: não se trata de uma súbita evasão. As ideias começam a ir-se cedo, num escoamento gradual que só se completa a esta hora – caso estejamos numa segunda-feira, insisto. Queria qualquer coisa para escrever, procuro no armazém, mas não há stock disponível. Nos outros dias não é assim: a esta hora ainda há uma boa reserva de ideias. Tenho reflectido sobre o caso, mas não encontrei explicação plausível. Pode pensar-se que “ter a cabeça vazia” não passa de uma expressão retórica e que, na realidade, haverá sempre lá qualquer coisa. Não. A expressão é literal. A minha mente – que se supõe estar dentro da cabeça – é uma ausência. Sim, tenho um cérebro, mas é como se não tivesse. Os neurónios entraram em greve: não fazem sinapses. Seria um drama, se fosse irreversível. Não é. Não posso, no entanto, provar esta última afirmação: trata-se de uma previsão e, como se sabe, o futuro escapa à certeza. A greve neuronal pode, no meu caso, ser eterna. Resta-me a esperança de que não o seja – que não seja greve, mas apenas cansaço.
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