Acabei de chegar de Itália. Ouvi do outro lado do telemóvel. Foi ao enterro do Papa, respondi. Uma gargalhada. Não, não. Devia ter ido, afinal ambos foram formados pela mesma Sociedade, respondi. Ou a sua veia de Settembrini, apesar de ser um jesuíta, o torna jacobino, acrescentei. O meu amigo padre Lodo, Lodovico Settembrini, continuou a rir. Não me provoque, ameaçou. Fui ver um sobrinho bisneto e baptizá-lo. Il Piccolo Settembrini que há-de assegurar a continuidade imortal dos Settembrinis, atirei. Sempre me pareceu que crê mais na imortalidade grega – aquela que vem pelos grandes actos e grandes palavras, mas, acima de tudo, pela continuidade biológica – do que naquela que lhe chegou de Jerusalém. Hoje, não consegue provocar-me. Além do mais, não acredito nessa veia de provocador, respondeu-me. Bem me parecia que lhe falhava a fé, contrapus. Sim, por vezes falta-me a fé, não no Alto, mas nas coisas baixas. Há muito tempo que não conversávamos, declarei, para mudar de assunto. Apesar da idade, tenho andado muito ocupado e não apenas com o baptizado do Pietro. Assuntos da Companhia. Não somos assim tantos e as solicitações não param. Liguei-lhe para combinarmos um jantar no próximo sábado. Estará cá o Hans e a Emília; acho que devemos juntar o grupo todo. Isso não será uma desculpa para esconder o pecado da gula? Não se preocupe com os meus pecados, ouvi. Trato disso, ao contrário de si, exclamou. Por mim, disse, nada a opor; antes pelo contrário. Quer que eu escolha o sítio e marque, perguntei. Não se preocupe, eu trato disso, prometo. Desde que não seja... não tive tempo de acabar a frase. Eu sei, eu sei. Estamos combinados, continuou, depois digo-lhe o local e a hora é a de sempre. Agora, tenho de ligar para a família em Itália.
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