terça-feira, 15 de abril de 2025

Efeméride

Sou dado a efemérides. E hoje é uma. Não faço ideia se a data é memorável ou se nela ocorreu um facto digno de ser lembrado. Devem ter ocorrido vários. Não há dia do calendário que esteja despojado deles. Antes pelo contrário. As minhas efemérides, contudo, pertencem a outra ordem. Memorável é estarmos no meio de um mês. Hoje é o último dia da primeira quinzena de Abril, coisa que merece ser comemorada. Qual a razão? – perguntar-se-á. O simples facto de o mês ter conseguido chegar – ou quase, só lá chega à meia-noite – a meio, não deixa de ser uma grande vitória do calendário. As pessoas julgam que um mês chegar a meio não passa de uma trivialidade. Ora, cometem um erro com funestas consequências. O facto de todos os meses de Abril de que nos lembramos terem chegado a meio, isso não nos garante que este o fará. É uma possibilidade, mas quem nos certifica de que o universo não colapsa nas próximas horas? Quem tem a chave para interpretar a vontade obscura desse ser monstruoso na sua grandeza sem limites? Se estivermos conscientes disto, percebemos uma coisa simples: o mês de Abril chegar a meio não é uma trivialidade, mas um milagre, um acontecimento excepcional, merecedor de ser considerado uma efeméride. Onde está o funesto anunciado acima? O facto de não reconhecermos o milagre pode irar o monstro, e este, na sua monstruosidade, só para punir a nossa insolência, decidir colapsar. O que seria desagradável. Ora, se há trivialidade mais que experimentada, essa é a emergência de coisas desagradáveis.

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