Não sei por que razão chegou à minha consciência a expressão A Ronda da Noite. É a designação de um programa da Antena 2, onde se fala de livros. É também um eco de um quadro de Rembrandt. O título é fascinante. Aliás, sinto um grande fascínio por títulos. Um dos filósofos com mais talento para os produzir é o italiano Giorgio Agamben. Recebi há pouco — também há empresas a fazer entregas ao sábado — uma série de livros, entre eles a edição integral, num único volume, de Homo Sacer, a qual contém em si nove obras distintas. Veja-se o título da primeira obra: Homo Sacer – O poder soberano e a vida nua. O quarto livro da série é Horkos. O sacramento da linguagem – Arqueologia do juramento. O quinto também tem um título notável: Oikonomia. O Reino e a Glória – Para uma genealogia teológica da economia e do governo. Também se distinguem Opus Dei. Arqueologia do Ofício e, ainda dentro da série Homo Sacer, O uso dos corpos. Fora da série, O Tempo que resta – Comentário à Carta aos Romanos e O Reino e o Jardim não ficam atrás. Encontrar títulos é um exercício requintado, pois envolve, por um lado, uma grande capacidade de síntese e, por outro, um afinado sentido estético. Imagino que Agamben terá um grande prazer em baptizar as suas obras, talvez tanto quanto em escrevê-las. Entre os livros que recebi hoje, vinha também um de outro filósofo italiano, Paolo Virno. Também ele sabe encontrar excelentes títulos: Gramática da Multidão – Para uma análise das formas de vida contemporâneas. Agora que escrevo sobre isto, ocorre-me que o facto de ambos serem italianos pode ter uma importância decisiva. Talvez a arte de escolher bons títulos seja um fenómeno regional. Não digo todo o mundo, mas todo o Ocidente devia ser italiano. Não por motivos políticos ou sociais — isso seria uma péssima ideia —, mas por uma questão estética. Nem que fosse para aprender a encontrar títulos dignos de registo.
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