Os dias continuam soturnos. Ao longe, um baloiço range, tomado pelo desespero, expulsando o silêncio que o crepúsculo deixa cair sobre a terra. Abril, o mais cruel dos meses, dilui-se em água: um dilúvio. Abril, que faz brotar lilases da terra morta. Abril, que mistura memória e desejo. Abril, que agita raízes entorpecidas pela chuva da Primavera. O poeta via Abril por dentro, perscrutava-lhe a natureza, procurava-lhe a essência eterna. Os poetas não descansam, mas a essência das coisas pertence a um mundo que está vedado aos homens. Um poema é uma viagem para essa pátria cujas fronteiras estão fechadas, onde o mais terrível dos exércitos se entrega a uma vigilância infalível. A beleza – essa palavra que perdeu a graça – da poesia está nessa expedição que nunca atingirá o seu destino. Dela faz parte o naufrágio inevitável, que se manifesta no esplendor da linguagem, na cintilação de uma metáfora que, ao aproximar-se da essência procurada, a perde. É esta a sua glória.
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