quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Docta ignorantia

Mais uma semana e estar-se-á naquele dia de azáfama preparatória que culminará com o jantar da noite de Natal. Uma semana talvez seja suficiente para a preparação dessa noite. Tal como no futebol – pelo menos, no de antigamente, que é aquele que conheço – havia uma semana para preparar um jogo que estava liquidado em menos de duas horas. Hoje, nada sei de futebol, embora ainda vá sabendo alguma coisa de noites de Natal, mas mesmo nesta sabedoria estou a caminho da docta ignorantia. Não sobre Deus, que era a douta ignorância de Nicolau de Cusa. Este sublinhava, assim, a limitação da razão humana para conhecer o absoluto. A minha, porém, é sobre as coisas mais triviais que os homens têm a pretensão de conhecer, seja com a razão, seja com os sentidos. Sou mais radical que o velho Cusano. A minha ignorância é, ao mesmo tempo, infinitamente grande e infinitamente pequena. Um problema de coincidentia oppositorum. No caso deste narrador desprovido de veia narrativa, a ignorância é sobre o infinitamente grande, sobre o infinitamente pequeno e sobre aquilo que fica entre os dois. O que perfaz uma verdadeira coincidência de desconhecimento. Um agnóstico. Mesmo o que sabe sobre as noites de Natal é mais ignorância do que sabedoria. Resta a sabedoria do futebol de antigamente, mas também essa não é uma autêntica sabedoria histórica, mas um conjunto de memórias que insistem em não ser apagadas com a passagem dos anos. Por vezes, entro por dentro de um discurso e descubro que ele é um labirinto. Descubro também que Ariadne se esqueceu de me dar o fio que me traria a bom porto. Perco-me e perder-se é ainda uma forma de ignorância, mas pouco douta.

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