Há pouco, nem sei a razão, pensei que hoje era dia 12 de Dezembro. Enfim, acertei no mês, apesar de falhar no dia. E quando não se falha no dia, há-de ser na hora ou no minuto, pois quanto aos segundos, são tão fugidios que falhar neles não é falhar, mas acertar por aproximação, umas vezes por excesso; outras por defeito. O meu nível de falibilidade já está no grau três. O grau quatro é falhar no mês, e o cinco é não acertar no ano em que se está. A partir daí é inútil introduzir novos valores na escala de falência temporal. Quando se atinge o grau quatro, a situação é grave. A patologia avançou mais do que devia. Trocar o dia 11 com o 12 ainda é aceitável, trocar o mês, mesmo para um ser humano, é falibilidade em excesso. E há quem o troque. Diga: Ah! Este Junho está frio, até parece que estamos em Dezembro. Mais raro, também há quem pense: este ano de 1987 está a ser difícil, ou que afiance que estamos em Dezembro de 2056. Haverá tratamento para isso? Não sei. Quando vou ao médico nunca lhe falo do assunto, senão manda-me fazer pilates. Já fui assim insultado por dois, por motivos diferentes. A princípio pensei que ele estava a falar de Pilatos, de Pôncio Pilatos. Achei estranho que a conversa derivasse para acontecimentos bíblicos e nem percebi a que propósito eu devia fazer de Pilatos. Ainda olhei para as mãos, para ver se as tinha de lavar. Tudo em ordem. E Pilatos não era pilates. Depois, percebi que era qualquer coisa tipo ginástica. Franzi o sobrolho. Disse que sim senhora, cumprimentei o médico, saí do consultório, paguei a consulta. Chegado à rua perguntei-me: em que raio de ano estamos nós? Não consegui perceber.
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