quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Lassidão

Numa da estantes, estava um pequeno caderno de capa dura. Na prática, um bloco-notas. Terá já uns anos, apesar de parecer novo. O que desmente essa plausível juventude é o elástico que se apresenta lasso e incapaz de cumprir a sua função de manter o caderno fechado. Está em branco, com a excepção da primeira página, onde descubro uma lista de nomes, escrita com a minha letra, mas cujo nexo não consigo entender. Seis desses nomes eram-me desconhecidos. Os outros dois eram os romancistas László Krasznahorkai, o Nobel da literatura deste ano, e Elsa Morante, autora do romance A História. Os outros nomes, fui pesquisar, eram de um mestre zen japonês, de dois místicos medievais, de um autor, também medieval, de legendas de santos, de um psicólogo norte-americano e de um historiador holandês. Gostava de saber duas coisas: há quantos anos escrevi essa lista; o que estava a fazer aquela gente junta. Depois do nome de László Krasznahorkai estão, entre parêntesis e separadas por ponto e vírgula, duas palavras, mas não consigo decifrar nenhuma. Há uma lição, porém, que é evidente. Muitas das coisas que fazemos, se não a maioria, morre sem dar qualquer fruto. Nem tentativas são, apenas esboço que, por certo, não chegou ao estatuto de ideia. Olho o bloco-notas, a sua bela encadernação e apiedo-me dele, pelo elástico castanho bambo e pela página conspurcada pela minha letra, sem que disso tenha havido qualquer resultado. Também os objectos não devem ser usados em vão.

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