Em tempos, talvez há muitos anos, não me lembro se entre o Natal e o Ano Novo, se após o Ano Novo, os estabelecimentos comerciais ostentavam na porta uma comunicação ao público: Encerrado para Balanço. E assim ficavam uns dias, embora nunca tenha descoberto como, dentro dessas casas respeitáveis, proprietários e empregados se balanceavam, ou qual a intensidade do balanceamento para que tão distintas empresas tivessem de estar encerradas, privando a estimada clientela dos seus serviços. É possível que aqueles que nelas trabalhavam ou mandavam rodopiassem a grande velocidade, o que não lhes permitiria ter as portas abertas, não fosse alguém projectado pela porta e atingisse um estimado cliente que, de susto ou com a violência do choque, pudesse ir parar ao hospital em estado comatoso, com prognóstico reservado e com possibilidade de aí a uma semana lhe estar a ser rezada por alma a missa do sétimo dia. Imagino que essa tradição de encerramento para balanço e as respectivas actividades de balanceamento tenham sido abolidas, pois, por mais que procure, não encontro estabelecimento com a velha frase. Talvez o perigo que nelas havia tenha levado algum grupo parlamentar preocupado com a saúde de proprietários e empregados, bem como com a segurança da estimada clientela, a legislar no sentido de proibir a actividade, no que, num momento raro, foi secundado por todos os outros grupos parlamentares, que, após a aprovação do diploma de proibição, se aplaudiram uns aos outros, esquecendo não apenas rivalidades pessoais como diferenças ideológicas irreconciliáveis. Terá sido uma verdadeira união nacional, muito mais verdadeira do que aquela que existiu no século passado. Agora está sempre tudo aberto, ninguém faz balanços nem se balanceia, nem aborrece a estimadíssima clientela que nunca se lembrava de que o estabelecimento fecharia para balanço e, não poucas vezes, batia com a nariz na porta, fracturando o septo nasal e entupindo as urgências dos hospitais e dando trabalho a uma legião de cirurgiões.
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