segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Uma parábola

Os dias continuam a empequenecer. O pior, para eles, é que isso não deriva de uma escolha sua, tão pouco é o resultado das suas acções. Os dias são puros, virginais, contudo não se conseguem subtrair à acção do destino. E este é injusto. Para uns dias, decretou ele a pequenez; para outros, a grandeza. O mais absurdo é que os dias pequenos se sentem culpados da sua pequenez, e os grandes, da sua grandeza. Deixaram-se contaminar pela narrativa meritocrática, dir-se-á. A verdade, porém, é que pequenez e grandeza – dos dias, note-se – são decretadas por uma entidade que nem pequenos nem grandes dominam ou sequer conhecem. Se eles conhecessem aquilo que lhes determina a dimensão, teriam outra percepção da sua vida. Os pequenos sentir-se-iam menos infelizes; os grandes, menos orgulhosos. Será isto uma parábola sobre a grandeza e a pequenez dos homens? Não, claro que não. Os homens são responsáveis. Ora se alguém tem um metro e sessenta, isso deve-se a más decisões suas. Também aqueles que têm um metro e noventa, têm-no porque fizeram boas escolhas. Sim, este texto é uma parábola, mas a sua referência são as coisas que não existem como os dias e as noites.

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