Afinal, também os imortais morrem. Foi o que me ocorreu ao
tomar conhecimento da morte de Agustina Bessa-Luís. Em tempos, tive com os
livros dela uma relação complexa, um misto de fascínio e ódio. Há na sua
escrita uma crueldade enorme que coloca o leitor de cócoras perante o seu
talento. Lê-la era ao mesmo tempo um grande prazer e um exercício de
humilhação. Ao voltar da página, na luz de uma frase, brilhava um estilete que
deslizava sobre a pele do leitor para se enterrar no lugar de onde brota a
vaidade. Há uns anos conheci alguém que vociferava contra todos aqueles que,
como o inútil que escreve estas palavras, julgavam a escritora genial. Uma
idiotice, asseverava. Como é possível julgar genial alguém que não passava de
um Camilo requentado, uma escritora do século XIX? Esqueci o nome e o rosto
dessa pessoa e nunca dei por que tivesse dado à luz a escrita que haveria de
iluminar o século XXI. Um dia destes voltarei aos romances de Agustina, agora
que as ilusões juvenis murcharam e a realidade crua desceu sobre mim. Por
certo, já não os jogarei ao chão e à parede, como, despeitado e preso ao
feitiço da sua escrita, cheguei a fazer. Mesmo quando os pássaros meus
vizinhos cantam, Junho é um mês difícil.
Eu fiquei-me pelo fascínio, mas provavelmente não li tantos livros dela como o HV...
ResponderEliminarAinda há dias, ao ver uma fotografia dela com a Sophia e o Eugénio, pensei: destes três que eu adoro só a Agustina está viva.
Quando vivia à beira-mar,Junho era o meu mês favorito por ter o Solstício de Verão, ou seja, o maior dia do ano. Era possível dar um mergullho ao fim do dia mesmo durante a semana.
Agora que vivo numa "zona forno" prefiro meses com dias mais curtos e frios.
Maria
O interior é terrível nos meses quentes. Talvez seja uma das razões que explicam o êxodo para o litoral, onde as temperaturas são sempre mais amenas. Os economistas, por certo, não gostarão da explicação, mas também eu não gosto de muitas explicações que eles dão.
EliminarHV