Olho a capa de uma velha revista e, de súbito, revela-se toda
a perfeição encoberta no limbo do passado. Não por acaso há pretéritos
perfeitos e até mais que perfeitos, apesar de também os haver imperfeitos, como
certas capelas na Batalha. Todas as famílias têm as suas ovelhas negras, foi, à
falta de melhor, a explicação que me ocorreu. A revista, publicada em MCMXXX
pela Litografia Nacional, tem por título Monumentos de Portugal – Cintra. Aí
está toda a perfeição. Que diferença entre a velha Cintra e a Sintra de hoje. O
leitor pode objectar, não sem alguma razão, que a actual é marcada pela dupla curvatura
da linha, ora para trás ora para a frente, de um esse que se contorce, como se
a vila quisesse, nestes tempos de funâmbulos, moldar-se à instabilidade acidental
de qualquer turista. A concavidade da velha Cintra tem, porém, outro carácter.
O cê está ali disponível para acolher dentro de si todas as outras letras e
fechar-se num mistério insondável, que nenhum intruso pressentirá. Enquanto
oiço a algazarra vinda de uma das escolas que há por aqui, medito que só os desavisados
pensarão que a grafia das palavras é coisa neutra, destituída de significado e
das mais terríveis consequências.
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