Peguei há pouco no romance O Beijo ao Leproso, de François Mauriac. Ainda não o vou ler,
observo-o apenas como objecto físico. É um velho livro da Colecção Miniatura da Edição «Livros do Brasil» Lisboa. Não tem
data, um acidente corrente até certa altura na edição portuguesa, mas o papel
está muito amarelado. O livro, comprado há pouco, nunca foi lido. As páginas
ainda estão coladas por um pequeno lacre branco. A capa e a contracapa
apresentam sinais de sujidade, talvez por terem estado muito tempo em
exposição. Não sei se o hei-de abrir. Tenho a sensação de que, quando acabar de
o ler, todas as folhas estarão descoladas da frágil lombada e hão-de cair para
me obrigarem a restituí-las à ordem. Agrada-me, porém, a estética da capa. Enquanto
penso em todas estas coisas, penso também nos motivos que arranjo para me
distrair. O sol continua, para minha felicidade, anémico, uma luz aguada lava
paredes e telhados, embate nas árvores para que sombras sejam projectadas na
terra, como se fossem reflexos das copas. Não me apetece ver ninguém, mas não
tarda haverá gente à minha espera. Não há distracção que nos salve daquilo que
tem de ser.
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