A tarde de voz rouca e agreste desfila como se fosse um
girassol entontecido pela luz. Frases destas enfureciam uma certa seita de
filósofos. Destituídas de sentido, diriam os pensadores tomados pela raiva,
dedos apontados, acusação sem direito a defesa. Como eu os compreendo. Também
os sons da bateria vindos de algum evento festivo aqui perto me chegam
destituídos de sentido. Pressinto o esforço do baterista, o movimento dos
músculos, a cadência das baquetas ao chocar contra pratos e tambores.
Definitivamente, a percussão nem sempre me cai bem. Acontecem as coisas mais
estranhas nesta terra onde nada acontece. A semana desenovela-se com
indiferença. Já esqueceu a segunda e a terça, não tarda aniquilará a quarta. O
baterista ensaia um solo, mas logo desiste. Há pouco corria uma aragem fria,
agora é uma nuvem que tapa o sol. Os músicos insistem e imagino que os ouvintes
resistem. Tocam êxitos do rock dos anos sessenta ou setenta, e eu, suspendendo
o meu ressentimento e incómodo, fico extasiado perante o engenho de quem tenta
parar a roda do tempo e imagina que tem vinte anos e uma vida pela frente. Não
tem, mas também não se cala.
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