quinta-feira, 13 de junho de 2019

Passar o tempo

Junho progride sem glória nem ignomínia. Vai em passo desengonçado e arrasta consigo corpos, casas, ruas, as memórias que começam a desvanecer-se ou os desejos, tomados por súbita aquietação. Têm sido dias ventosos, oiço dizer. Uma mulher confirma a constatação da outra, enquanto passam por mim e se afastam, logo sendo devoradas pelo espaço onde caminham e pelo tempo que passa. Observo os carros da avenida. Alguns aceleram para travar bruscamente ao aproximarem-se das passadeiras, outros seguem vagarosos, enquanto os seus ocupantes devaneiam, como se ainda estivessem naquele limbo que faz a ligação entre o sono e a vigília. Também eu me sinto nesse limbo. Mantenho os olhos abertos, mas a minha vontade é de correr para casa e deixar-me adormecer. Contenho-me e luto contra o demónio da preguiça. O dever chama-me, digo sem ironia e rio-me. Por motivos terapêuticos, comecei por rir-me das coisas que fazia. Agora, sem esperança de cura, rio-me de mim. Cada um passa o tempo como pode.

2 comentários:

  1. Sim, Junho tem sido ventoso e as temperaturas têm estado amenas, o que me agrada bastante, obrigada que sou a passar muito do meu tempo em casa (deveres inesperados).
    E esses deveres impedem-me de rir como desejaria (e costumava), mas vou ter que reverter a situação, vou ter que descobrir o lado cómico de tudo isto, porque rir faz mesmo muito bem :)))
    Maria

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    1. O vento não tem sido inimigo, pelo contrário. Não fora ele, e o calor já seria insuportável. DE resto, tem razão. Rir faz bem.

      HV

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