Pego na National Geographic
de Abril e abro-a ao acaso. O tema é as cidades do futuro e desenrola-se à
minha frente um sem número de utopias que nos hão-de salvar da perdição. Fecho
a revista. O futuro cansa-me e mais ainda os profetas, os planeadores e todos
os que têm uma redenção fácil ali mesmo à mão, pronta para nos retirar do
purgatório, ou mesmo do inferno, em que vivemos. Talvez a minha cidade também
tenha um futuro, o futuro de não ter futuro e, assim, se arraste como uma
tartaruga, lenta e pausadamente, sabendo que tem todo o tempo do mundo e que,
por mais vagarosa que seja, há-de sempre vencer o veloz Aquiles. Não sei como é
que a revista veio parar onde está, mas também não me interessa o enigma. Algum
dos filhos a trouxe e a deixou por ali, também ele já exausto de futuro. Os sábados
que têm uma segunda-feira de feriado à sua frente são dias esplendorosos.
Enrolo-me neles e deixo passar as horas, vejo-as desfiarem-se e desaparecerem
nessa garganta funda que é o passado. Nos jornais descubro que, em Nova Iorque,
uma centena de seres humanos se despiram para protestarem contra a censura dos
mamilos femininos no Facebook. Fico mais tranquilo, o mundo, apesar do futuro,
continua a ser o que era. Uns vestem, outros despem. Talvez vá dar uma volta e
procurar o lugar onde, aqui mesmo, começa o futuro.
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