Os livros estão mais caros. Hoje fiz uma viagem à fnaquezinha existente num centro comercial da simpática cidadezinha onde me é dado passar os meus dias. As noites, também, esclareça-se. Fui em demanda, com sucesso, dos Contos de Cantuária, de Geoffrey Chaucer, na recente tradução do poeta Daniel Jonas. É um belíssimo livro – refiro-me ao objecto e não ao conteúdo – de capa cartonada. Percebe-se o preço a rondar os trinta euros. O pior, todavia, é que os outros livros das minhas editoras de eleição decidiram encarecer. Estão bem mais caros do que eram há uns meses. Talvez as editoras estejam cansadas dos compradores e temam que o livro se torne objecto de uma plebe feia e maltrapilha que, ao comprá-lo, o desprestigiaria, ao livro, mas também às editoras e ao editor. Parece-me uma belíssima estratégia. Nada de democratizar o acesso ao livro. Isso seria dessacralizá-lo, meio caminho para andar nas bocas – ou nos olhos – do mundo. Além da obra de Chaucer, comprei Belladonna, de Dáša Drndić, uma escritora croata desaparecida em 2018, de que nunca ouvira falar. Isto faz-me lembrar que no final da semana que está a entrar terei de ir ao lançamento, em Lisboa, de um livro de que sou co-autor, para desgraça do livro e minha. Para dizer a verdade, não entendo sequer por que raio está lá o meu texto entre os de especialistas na matéria, eu que não sou especialista de nada e muito menos daquela matéria. Por vezes, caio em tentação. Aqui que ninguém me ouve, escrevi o ensaio – pois de um ensaio se trata – há tantos anos, que nem me lembro do que lá está. A minha esperança é que não esteja ninguém no lançamento, mas tenho as minhas dúvidas, considerando os restantes autores. Os amigos arrastam-nos para cada coisa. Nunca estamos dispostos a prestar ouvidos às sensatas injunções parentais, quando enviesam o olhar e exclamam vê lá com quem andas. Agora, é tarde.
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