Talvez já o tenha escrito aqui, mas se o fiz, não hesito em repetir-me. Há livros que têm títulos magníficos. Hoje, ao deambular por um artigo do filósofo italiano Dario Gentili, encontrei uma referência a uma obra denominada L’epoca delle passioni triste. Não conheço os autores – Miguel Bensayag e Gérard Schmit – mas parece terem um apurado sentido para escolher títulos. Tudo isto foi pensado até há pouco quando decidi fazer uma investigação sobre o livro. Que descobri eu? Que era uma tradução italiana de uma obra francesa, que no original tem o prosaico título Les Passions Tristes. Souffrance Pschychique et Crise Sociale. Talvez o título italiano seja criação da tradutora Eleonora Missana. Facilmente nos deixamos levar por um equívoco. Enquanto se trata de um livro, a coisa não é grave, mas há quem acabe por casar devido a um equívoco, a um pequeno engano, a um simples mal-entendido, que depois haverá de ser descoberto. Talvez, nos dias que correm, nem isso seja particularmente grave. Um divórcio e o equívoco fica desfeito. O artigo que referi está na Electra, a revista da Fundação EDP, uma belíssima revista, diga-se. O número deste Inverno tem por tema Os Números. Um dos artigos, de Matteo Pasquinelli, denomina-se, na versão portuguesa, Do algarismo ao algoritmo: brevíssima história do cálculo, da Idade Média até hoje. Um belo título. O que me fascina, contudo, é L’epoca delle passioni triste. No entanto, talvez exista um outro equívoco no título. E se todas as paixões, independentemente da época, forem tristes, apesar do fogo-de-artifício que as rodeia? Há uns anos, passei uns dias em Bilbau, na altura em que decorriam as festas da cidade. Há meia-noite, salvo erro, havia sempre fogo-de-artifício. As pessoas convergiam para o centro da cidade, sentavam-se pelo chão e viam um espectáculo sempre belíssimo. Depois, acabava, ficava o vazio e cada um voltava à trivialidade da sua noite.
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