O mundo está perigoso, oiço dizer ao passar perto de uma esplanada. Como estamos num Verão em pleno Inverno, as esplanadas estão cheias e as pessoas têm de dizer qualquer coisa, mesmo que não tenham nada para dizer. Talvez a tagarelice seja uma coisa boa. Se toda a gente se dedicasse a ela, é possível que o mundo fosse um lugar melhor. Enquanto falam umas com as outras sobre assuntos nenhuns, não estão a matar-se. Já as conversas sérias têm um potencial de violência que nunca se deve subestimar. Por aqui, chegou o crepúsculo. Dia e noite enfrentam-se hesitantes, a luz difusa parece dizer que nada está decidido, mas sabemos que a noite levará a palma. Por outro lado, a noite não é bem noite, toda ela pontilhada de luzes, como se o seu corpo tivesse sido atingido por milhares de pequenas setas luminosas. Hoje fui fazer uma visita, mas nem sempre visitar alguém é a melhor das coisas. Sê-lo-ia, no melhor dos mundos possíveis. Ora, este que nos cabe em sorte está muito longe de ser o melhor. Não sei ao certo a razão, mas diante dos meus olhos pairou o título de uma encíclica do actual Papa: Fratelli Tutti. Talvez ele queira tranquilizar as pessoas sublinhando que somos todos irmãos. Ora, não tenho a certeza que essa seja uma boa estratégia. Quantas pessoas conspiram para fazer mal aos irmãos. Guerras entre irmãos costumam ser tudo menos exercícios de fraternidade. Também a Revolução Francesa começou com proclamações de fraternidade e acabou a cortar pescoços. Estou a entrar por caminhos ínvios, os que são da política e da religião. O mais sensato será parar por aqui e ficar a ver a noite cair sobre o telhado das casas.
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