sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Trivialidades

Chegou o fim-de-semana. Chegaram, também, os pássaros meus vizinhos. Suspeito que se fartaram do Sul e subiram um pouco, para um Sul menos Sul que o Sul. Não é de bom tom estilístico repetir, na prosa, as mesmas palavras e até os mesmos sons. Assim, além de não dever repetir tantas vezes Sul, deveria evitar escrever palavras como azul ou mesmo bule. Sugerem os donos do estilo que quem queira entregar-se a aliterações, assonâncias, iterações e outras coisas repetitivas que escreva poesia. O certo, porém, é que a chegada dos pássaros, aliada com o florir das orquídeas, anuncia a ainda distante Primavera. Escrevi a palavra orquídeas depois de uma luta tenebrosa com o meu cérebro. Não me conseguia lembrar do nome dessas plantas. Depois de um esforço titânico, desisti. Recorri ao plano B, agora que toda gente tem um plano B, ou se não tem, diz que tem. O meu surtiu efeito. Como na longínqua juventude fui um leitor de Rex Stout, sabia que Nero Wolfe, o detective excêntrico por ele criado, cultivava essas plantas cujo nome não me ocorria. Fiz uma pesquisa e lá encontrei o nome que tinha sofrido na minha memória um curto-circuito. Será pior o dia em que nem de Nero Wolfe me lembre. Em síntese, hoje nenhuma aventura tinha para acrescentar à minha gesta, restava-me encontrar duas ou três trivialidades, e essas nunca me faltam. Agora vou fechar as janelas e ligar o aquecimento, e estes são os primeiros gestos heróicos do dia.

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