O mundo está cheio de indícios de que sou velho. Pertenço a um tempo em que não se sabia que S. Valentim tinha uma inclinação para padroeiro de namorados. Para dizer a verdade, não fazia a mínima ideia de quem era o santo, e, caso mo perguntassem, diria que era um daqueles que se comemora no dia de Todos-os-Santos. Hoje, caso quisesse marcar uma mesa para um restaurante, não me seria possível, pois todos aqueles que julgam ter o dever de comemorar a futura separação, ou coisas mais negras, ocuparam as mesas para fazer jus ao pobre do Valentim. Aqui por casa, temos uma especial embirração com o dia. Como este só o Halloween. Todo este rancor não passa, porém, de uma bravata de quem pertence a um mundo que já acabou. Por outro lado, não sou completamente desfavorável ao caso, pois sempre ajuda a restauração a restaurar as finanças, com casa cheia, muita gente feliz, corações e, nunca se sabe, algemas, para casais mais dados à dominação. Quem não deve estar particularmente feliz é a minha neta mais velha. Em vez de S. Valentins, está a ser torturada com equações. A tecnologia não veio melhorar o mundo. Com ela, o braço da avó estende-se por mais de 100 km para lhe ordenar atenção às estratégias de resolução dos problemas. Isto fez-me lembrar a tensão entre a Ucrânia e a Rússia, mas sobre assuntos políticos não tenho opinião. A noite desce lentamente, os namorados suspiram, olham-se, bocejam, enquanto espreitam para o relógio e calculam quanto tempo falta para o jantar. Ah… estava-me a esquecer. Hoje, alguém conhecido, mas não íntimo, perguntou-me o que íamos fazer à noite. Olhei a pessoa perplexo. Se íamos jantar fora, é dia de S. Valentim, esclareceu. Fulminei-a com o olhar. O que vale é que o meu olhar tem pouco de fulminante, e a pobre vítima resistiu. São valentinizem-se, é o que me ocorre dizer.
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