Avanço com alguma rapidez no romance Aniquilação, de Michel Houellebecq. Parece um encontro de pessoas desacertadas com a vida. Não se trata da tradicional finitude humana, que torna patente os limites dos seres mortais, mesmo se dotados de razão. É mais que isso. No âmbito da finitude e dos limites humanos, a generalidade das pessoas alcançava uma certa solidez e dirigia a vida por esse caminho. Aquilo que o romancista francês torna manifesto é a fluidificação não apenas das relações humanas, mas de cada ser humano, como se cada um tivesse sempre pronto a penetrar num estado em que se derrama no palco da vida. Há alguma razão na observação de Houellebecq. A solidez – por exemplo, a solidez de um carácter – perdeu sentido. Os contornos dos indivíduos tornaram-se difusos e porosos. Ou, então, Houellebecq está velho e perdeu a capacidade de perceber as novas formas de vida. É uma coisa que acontece com este narrador. Os debates que animam as gerações mais novas são-me quase incompreensíveis. Haverá um limite de idade para compreender aquilo que é novo. Talvez tudo esteja sólido, só que os que envelheceram são incapazes, por cansaço, de apreender a solidez, tomando-a por uma torrente líquida que se expande sem objectivo compreensível. É verdade, foi uma segunda-feira árdua, o que enviesa a forma como se escreve.
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