Lá consigo emparelhar o telemóvel com a coluna. Derrotado a serpente da incomunicação, oiço o Quarteto de Cordas nº 2, de Beethoven. Fecho os olhos e deixo a música escorrer por mim. Sinto saudades da minha aparelhagem, abandonada por um fim-de-semana. Quase que me sinto de férias. Uma ilusão. Ora, se não fossem as ilusões a vida seria insuportável, digo-me, não sem condescendência. O véu de Maya com que a cobrimos torna-a até desejável. Hoje, estou apostado em desviar-me de qualquer meditação pessimista. O dia nem começou mal, com uma caminhada proveitosa, logo após o pequeno-almoço. Depois, passei a uma gestão cuidadosa deste sábado, não vá ele dissolver-se sem que eu lhe tenha dado a devida atenção. Os dias são amos tirânicos, exigem de nós aquilo que podemos e o que não podemos dar-lhes. Se não atendemos as suas exigências, dissolvem-se em poeira. Nada pior do que passarmos pela vida carregados de poeira. Esta parece-me uma boa lição moral, uma lição indicada para terminar o texto. Não vás pela vida fora carregado de poeira! Eis o imperativo.
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