As coisas que se descobrem quando não se tem assunto para escrever. Toda a gente que tem um interesse mínimo por pintura já ouviu o nome de Camille Pissarro, um dos fundadores do impressionismo. Até aqui não há qualquer novidade. Ora, o pintor era filho de um judeu português de Trás-os-Montes, que fora para Bordéus com os pais, certamente para fugir à benevolência da Santa Inquisição. Duas das grandes figuras da cultura europeia – o pintor Camille Pissarro e o filósofo Baruch Espinosa – têm as suas origens em Portugal. As famílias de ambos não simpatizavam particularmente com a Inquisição e achavam deplorável a perseguição de judeus e foram-se embora. Outra figura eminente da cultura europeia, no campo da economia, é o britânico David Ricardo, também com origens sefarditas portuguesas. É possível, caso não existissem as benevolentes perseguições em nome da religião e do amor ao próximo, e as famílias tivessem por cá ficado, que essas pessoas não chegassem a ser o que foram. Também é possível que o país em que vivemos fosse hoje muito diferente. Para melhor. É possível que exista, mas eu não conheço. Refiro-me ao levantamento sistemático daqueles judeus sefarditas portugueses – ou dos seus descendentes – expulsos de Portugal e que se tornaram, nas diversas áreas, figuras fundamentais da cultura europeia. Ter a dimensão da perda talvez sirva de lição, embora eu tenha fundadas dúvidas sobre a capacidade de a humanidade aprender com os erros. Talvez a espécie humana seja já – em termos biológicos – demasiado velha, e burro velho não aprende lição. Outra hipótese é ser demasiado nova e o seu desenvolvimento cognitivo ainda não lhe permitir compreender estas lições. Vou ver se descubro alguma maneira eficiente de descansar neste domingo.
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