O dia está calorento. O céu desfez-se das nuvens e neblinas matinais e deixa, agora, que os raios solares dardejem impiedosas. As sombras retraem-se. Ao longe, ouve-se o murmúrio do mar. Foram todos para a praia, contrariando uma antiga regra familiar que proibia a praia ao domingo. Não por motivos religiosas, mas para evitar as grandes aglomerações. Só eu me mantive fiel à regra. Quanto a praia, para mim, todos os dias da semana são domingos. E em todos eles mantenho fidelidade à velha regra. Literalmente, não sou um banhista, embora tenha começado o dia com um banho, mas de chuveiro. Leio que o filósofo David Chalmers afirma que o termóstato tem consciência. Não vou procurar a sua argumentação. Imagino-a, apenas. É possível que os termóstatos tenham consciência, pois controlam as temperaturas num qualquer sistema, mantendo-a entre dois limites. A partir de um certo conhecimento da temperatura, ele toma a decisão de a baixar ou elevar, pondo em acção um determinado dispositivo. A partir de hoje darei mais atenção aos termóstatos e evitarei tratá-los mal, não vão eles ter consciência disso e lançarem sobre mim uma fatwa. O facto de eu não ser um banhista pode estar ligado a um qualquer termóstato que exista dentro de mim e que me ordena que me afaste desses sítios tenebrosos onde a humanidade insiste em apresentar-se quase despida. Aproveita o calor do dia e toca de mostrar aquilo que toda a gente dispensaria ver.
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