Este quase parece um domingo de férias, mas não o é. Assim se descobre que a realidade está sempre disposta a iludir-nos, mostrando-nos facetas contrafeitas, para que nós nos deixemos embalar pelo canto das sereias. O que me vale é saber da receita que protegeu os companheiros de Ulisses. Os meus ouvidos estão indisponíveis para as sereias que por aí abundam. Não é uma sereia, por isso estou a ouvi-la. Refiro-me a Beatriz Nunes, uma cantora portuguesa de Jazz. Ontem descobri um contrabaixista de nome André Rosinha. Comecei a ouvir os discos dele e, entre eles, veio o álbum À Espera do Futuro, onde forma um trio com Paula Sousa (piano) e Beatriz Nunes (voz). Hoje já fiz a caminhada de vários quilómetros, aquela que fornece pontos cardio, tendo andado seiscentos metros dentro do mar. Não se pense que foi sobre as águas. Não, foi sobre o cimento armado de um molhe que rasga o oceano e leva os caminhantes até a um farol. Chegados aí, dá-se uma volta ao farol e retorna-se ao ponto de partida, que fica ainda longe. Parece não ser uma aventura particularmente exaltante, mas, posso assegurar, é bastante agradável. E estamos todos cheios de coisas desagradáveis. Agora, vou esperar pela tardia hora do almoço dominical, enquanto me deixo embalar pela voz de Beatriz Nunes. Em dias como este, não me ocorre nada para dizer.
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