Deixo escorrer devagar este sábado, sem saber o que fazer nele, sem saber o que fazer dele. Foi para esta ignorância que me levantei pouco passava das sete da manhã. De então para cá vivo subjugado à questão o que fazer? A praia está-me interdita por uma incompatibilidade entre mim e ela. Das coisas que tenho para fazer, nenhuma delas me toma a vontade para que a execute. Há pouco adormeci sentado, depois acordei e, sem saber a razão, lembrei-me dos meses de Setembro de há mais, bem mais, de cinquenta anos, quando ia para a aldeia e, nas primeiras noites, o adormecer era ameaçado pelos barulhos exteriores, os quais me eram desconhecidos, nunca sabendo de que terríveis ameaças eram arautos. Depois, o hábito tornava-os inofensivos e, por aquele ano, convivia pacificado com eles, para se transformarem, de novo, em prenúncio do mal no ano seguinte. Mais tarde, não muito, tornaram-se triviais e do que é trivial não temos receio. As férias escolares de Verão ocupavam um quarto do ano civil e os dias tinham horas bem mais longas que as actuais. Quando chegavam, pensava que diante de mim se abria a eternidade e que havia tempo para tudo. Não havia, mas o tudo que se imaginava então era muito mais exíguo que o tudo que conhecemos hoje. Na verdade, fazia com esse tempo aquilo que faço com este sábado. Deixava-o escorrer, até que se esgotasse e viesse o mês de Outubro com os seus imperativos e uma ordem que me desordenava a existência. Hoje, Julho dobrou o cume e encontra-se já a deslizar para o abismo, onde Agosto o espera com a espada que o há-de assassinar.
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