O dia amanhece com uma penumbra a toldar-lhes o rosto.
Depois, a máscara há-de cair-lhe e, contra o meu desejo, a temperatura subirá
impiedosa e impenitente. Levanto-me, enrolo-me nessa ameaça estival Outono
dentro, e oiço o rumor matinal dos carros a precipitarem-se, ao longe, como
sonâmbulos, auto-estrada fora. Olho pela janela e encolho os ombros. Fecho os
olhos e vejo a terra seca e gretada, ervas e árvores, imagino-as em genuflexão,
murmúrios levados pelo vento para que a misericórdia de um deus lhes traga água.
Nenhum pensamento perpassa, só a sensação do calor que a tarde trará, o sol a
lacerar-me já a pele. Nos olhos de quem há-de passar por mim antevejo uma
ameaça de deserto, a areia a golfar-lhes das órbitas. Uma longa caravana
serpenteia as dunas. Ponho a água a correr e penso: estou atrasado.