Um problema desabou aqui em casa ao cair um dente da minha neta
mais velha. Pôr o dente por baixo da almofada ou não, para que a Fada dos Dentes
tenha oportunidade de exercer a sua benevolência. Perante o dilema, a mais nova
diz: “A mana não acredita no Pai Natal nem na Fada dos Dentes, mas eu gosto de
acreditar. Faço bem, não faço, avó?” E assim, numa daquelas conversas que ela
gosta de entretecer com os adultos, resolve problemas filosóficos com mais
rapidez do que aqueles a que eles se dedicam. A magna questão de crer no Pai
Natal ou na Fada dos Dentes não pertence ao reino da epistemologia, mas ao da
estética – eu gosto de acreditar – e ao da ética – faço bem, não faço? E assim,
ficamos a saber que não é a verdade que interessa, mas o prazer. E se nos dá
prazer, então temos o dever de acreditar. Será isto o fundamento da religião?