Ao abrir a janela, atingiu-me uma lufada de ar quente.
Afinal, as previsões confirmam-se, ponderei. Chegaremos aos 35º. Não
sei o que hei-de pensar desta minha nova obsessão com o estado do tempo. Temperatura
de Verão, mas a cor da luz não engana ninguém. Os prédios, onde ela se
reflecte, ostentam agora um ar de melancolia tão distante da irritante jactância
com que se mascaravam nos dias mais violentos de Julho e Agosto. As pessoas
passam enroladas em conversas de domingo. Dois cães olham-se, medem-se, ganem e
afastam-se de rabo a abanar. Os domingos são assim, disse para mim, territórios
onde nem os cães gostam de se confrontar. O folhedo caído, levanta-se enovelado
pelo vento. Este não engana. É o velho vento de Outono. Tenho sede. Fecho a
janela e recolho-me reconciliado.