Dei comigo a cismar sobre O Leopardo, de Visconti. Acontece-me, por vezes, a memória, sem que
eu perceba porquê, voltar a esse filme. O que me prende nele, como num sonho
recorrente, é a cena inicial, a da oração do terço, e a final, a do baile.
Entre estas duas, é um mundo que se afunda na ruína e outro que desponta.
Assaltam-me imagens das contas a deslizar pelos dedos dos que rezam
entrecortadas por outras, onde os pares rodopiam no salão de baile. E eu não
sei, juro que não sei, se um mundo, outrora sólido e garboso, acaba com uma
oração ou se com uma grande festa. Se num mistério doloroso ou se numa promessa
gozosa.