Uma grande excitação vai por aí. Fala-se de acusações e
arguidos, e do regime e sei lá eu mais de quê. Lá fora, alguém diz que tem de
ir tratar das orquídeas. Empurrada pelo vento, uma porta bate. A água corre,
oiço-a. Estou sentado e olho a janela. Ao longe, os cedros estão a secar e as
paredes do hospital cobertas de bolor. Um pombo fendeu o horizonte e
desapareceu. Pego num livro, mas, nem sei porquê, começa a desfilar diante de
mim a sorte miserável de alguns déspotas odiosos. E nunca sei quem é pior, se o
odioso justiçado, se a multidão que ulula por aí o seu ódio justicialista. A
luz do sol ainda bate na parede do prédio da frente. Débil. Temerosa. Ao menos,
se eu fosse um Nero Wolfe teria umas orquídeas para tratar e tudo seria mais
fácil, penso. Morreriam, grita em mim a voz que nunca se cala.