O vento bate nas persianas, enquanto a música vinda da
escola aqui ao lado invade o escritório. Tenho de decidir se quero que o ar
continue a entrar ou se me poupo ao gosto musical que outros teimam em
impor-me. E sinto-me enrolado nessa eterna controvérsia entre aquilo que é e
aquilo que deve ser. Se olho as árvores da avenida, cujas folhas, tocadas pelo
vento, se entregam ao êxtase da queda, não me ocorre nenhum dever ser. Poderia,
porém, olhar para as pessoas sem carregar comigo os óculos do dever ser? Eis
uma pergunta muito pertinente nestes dias, penso. E dou comigo a dizer que era
assim que as deveria olhar, olhá-las sem as pintar com aquilo que elas deveriam
ser mas não são. Rio-me, vítima de mim mesmo, do meu dever ser, e fecho a
janela.