Quando, hoje de manhã, atravessei a avenida marginal, havia
nos castanheiros um silêncio ruidoso, quase agreste, talvez uma atitude de
desafio aos que, como eu, por ali passam sem os ver, ou, talvez mais
indesculpável, só os vendo naquela época do ano em que o seu ser se exibe numa
floração sumptuosa, que cativa os olhos e os obriga a erguer-se às copas. Uma
pessoa vai por ali, enclausurado no carro, a ouvir música, e enrodilha-se no
primeiro oximoro que lhe aparece e logo começa pensar em silêncios ruidosos ou
na paz conflitual que a envolve. E por uma súbita associação de ideias percebe
que o silêncio ruidoso dos castanheiros é uma metáfora de certos ambientes que
frequenta, o horizonte onde se inscreve aquilo que diz. Nunca é tempo perdido
falar com castanheiros ou carvalhos, ou mesmo a velha oliveira que o tempo
deixou esquecida num relvado posto ali para que se pensasse que somos
civilizados.