Leio: "Os corpos são geografias deslocadas" e já
não quero ler o resto do poema de Tolentino Mendonça. Tenho medo que o primeiro
verso se estrague pela contaminação dos seguintes. E fico a pensar: o meu corpo
deslocou-se de onde? Deixo perpassar por mim a música de Satie, que o velho
gira-disco deixa escapar, temeroso de não descobrir esse locus original de onde
o corpo se tresmalhou. Sempre podia ir fumar um cigarro, mas fico-me pela
água que escorre da garrafa. É verdade, a palavra geografia, mesmo no plural,
sempre me fascinou, e dos fascínios o melhor é não haver pensamento.