A Antena 2, estação de rádio a que sou fiel, tanto quanto posso,
há décadas, tem o condão de me exasperar. Sintonizo-a e apenas quero ouvir
música, mas, por vezes, a estação insiste em servir-me uma conversa que, vá lá
saber-se a razão, me há-de tornar culto. Dispenso, de mau humor, o
enriquecimento oferecido e viajo para o spotify ou para o youtube, só para não
ter trabalho de pôr um CD ou um LP. Nesses momentos de exaspero, fico na dúvida
se serei um bocadinho autista, como se diz cá por casa, ou se não passarei de
um hooligan, daqueles a que refere Jason Brennam no seu livro Against Democracy. E enquanto selecciono
os Nocturnos, de Chopin, pela Brigitte Engerer, penso que, nestes dias, tornei a constatar que estou rodeado de
hooligans políticos. Uns mais amáveis e amenos, outros mais exaltados e
exasperados, mas quase todos hooligans. Vulcanos, esses são raros, muito raros,
embora os haja. Mas mais que a política, é a conversa atoleimada, a que me há-de
salvar da incultura, que me aproxima do hooliganismo. Um dia destes talvez
fale de hobbits, hooligans e vulcanos, caso não tenha mais nada para dizer.