Há uma forma de fazer filosofia, hoje com as acções em alta no mercado de valores intelectuais, que dá uma importância desmesurada às classificações. Em qualquer assunto proliferam uma quantidade indefinida de espécies catalogadas por nomes que, em geral, terminam com o sufixo -ista. A filosofia é então uma tarefa infinita de sufixação e criação de categorias para lá incluir a fauna que se dispersa numa selva que não pára de crescer. Parece ser o único sítio no planeta em que a vida selvagem não se encontra em perigo. Ter pensamentos destes antes de um almoço de domingo não é sintoma de grande saúde mental. Por outro lado, estas coisas não interessam a ninguém a começar por mim, embora eu seja um exemplo acabado de pessoa que se interessa por coisas que, na verdade, não a interessam para nada. No sítio onde estou, avisto uma chaminé antiga, daquelas redondas, feitas de tijolo, que se elevam, impantes, sobre a pequenez do casario e que indicam a existência de um forno. Espero ver o fumo sair dela, mas a minha esperança é defraudada. À sua exuberância fálica corresponde uma esterilidade de facto. O almoço parece atrasado, as vozes lá de dentro sussurram e eu, sem saber o que fazer, sigo a pista dos contigentistas e dos necessitistas, como quem segue no rasto de animais exóticos, embora sem esperança de criar um zoo e cobrar entradas aos excursionistas de domingo e a deslumbradas turistas de telemóvel em punho. O talento para os negócios foi uma virtude que a divindade achou por bem não distribuir pela minha pobre pessoa. Não fora isso e abriria um jardim zoológico.
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