Uma infelicidade não ter estudado leis e não saber latim. Um
mal nunca vem só, foi o que pensei quando, arrastado por uma mórbida
curiosidade, consultei o dicionário para saber o que eram clientes
inadimplentes, dos quais uma certa marca de automóveis se queixa e, por ínvios
caminhos, persegue. Pensei logo que não seriam grande coisa, tão horrível era a
palavra que o jornal empregava para classificar tais clientes. Mesmo sem saber
o significado, a última coisa que eu queria ser era um inadimplente. Consultado
o Porto Editora que tinha à distância de um click,
a coisa era mais simples do que parecia. Gente que, talvez por falta de
memória, por distracção ou por dificuldade de se relacionar com o tempo, não
cumpria, no prazo acordado, um pagamento ou um contrato. Pessoas pouco
católicas têm a tendência de lhes chamar aldrabões, mas isso é falta de caridade.
Por vezes sou assaltado por estranhos pesadelos, nos quais me entrego a pesados
estudos do Direito. A tarefa principal é a de construir listas de palavras onde
a ordenação jurídica opera para se ocultar do mais culto dos mortais. São
sonhos de cortar a respiração. Lembrado desses devaneios oníricos, depois de
tomar café, fui a uma loja de chineses, com o promissor nome de Compraky, e adquiri três cadernos
pautados, com a capa a dizer notebook,
e que hei-de encher, durante os meus piores sonhos, com vocábulos que só a
ciência do Direito tem o poder mágico de evocar. Tudo isso é preferível,
pensei, do que chegar a inadimplente. É duro ser ignorante.
Sem comentários:
Enviar um comentário