É um trauma antigo. Tenho uma relação difícil com os tubos
de cola. Fundamentalmente, com aqueles minúsculos de onde sai uma substância
translúcida que consegue até grudar o céu ao inferno, imagino eu. Exigem uma
perícia no manuseamento que a natureza ou Deus decidiram não me conceder ou,
para persistir no registo religioso, o diabo me roubou. O certo é que, sempre
que me aventuro em unir aquilo que o tempo ou o descuido desuniu, fico com os
dedos lambuzados com a maldita mistela, a qual, sem me dar tempo para reagir,
seca e forma uma película sobre a pele. Irrita-me a insensibilidade digital a
que fico sujeito. Não una o homem aquilo que foi desunido, parece-me uma
injunção a não desprezar. Suspeito que haverá um produto que dissolva a
mixórdia que me envolve os dedos, mas nunca me lembro de o comprar, caso
exista. Fico assim cativo da minha inabilidade estrutural. Quando isto
acontece, como há pouco, olho para as minhas mãos, como se contemplasse a mola
propulsora de um desastre. Depois, rio-me. Nem disso, por pequeno que fosse,
seriam capazes. Os trabalhos manuais sempre foram uma penitência excessiva e se
oiço a palavra bricolage afasto-me de imediato, num exercício de verdadeira
prudência.
Supergel (... de qualquer modo, graças a Deus - e ao Demo - pelos falhanços que se metamorfoseiam em discretos talentos.)
ResponderEliminarAtentamente.
Isso, supergel. Um inimigo privado.
EliminarHV