Na escola aqui ao lado há eleições para a associação de estudantes. A campanha é feita, segundo sou forçado a perceber, ao som de uma música ensurdecedora, acompanhada pelo grito em uníssono de um rebanho exaltado. Gritam: vota e a letra que designa a lista, tudo repetido ad nauseam. Talvez não tenha sido por acaso que tenha visto, enquanto os meus ouvidos eram martelados, num tweet de um conhecido ex-embaixador português, uma fotografia do amado líder político, de uma das mais caricatas ditaduras existentes, seguido não pelos gritos de um rebanho enfurecido, mas por um conjunto de civis e militares, armados de caneta e papel, prontos para apontar qualquer palavra – sempre, um grande pensamento – do divino pastor de rebanhos. Nós nunca estamos suficientemente atentos a estas conexões inesperadas, mas elas trazem-nos lições. Não estou a dizer que as associações de estudantes do ensino secundário sejam uma escola para produzir candidatos a amados líderes e, por outro lado, ovelhas exaltadas de um rebanho. Honni soit qui mal y pense! Talvez, porém, esta estranha coincidência, na minha consciência, não seja fruto de um mero acaso. São ínvios os caminhos do Senhor. Não tarda, chega o meu neto. Faz três anos. Sei lá se, um dia, não se irá candidatar a uma associação de estudantes. Sei lá. O que vale é o intervalo ter acabado, a música calou-se, o rebanho entrou para o redil.
Sem comentários:
Enviar um comentário