Quem hoje em dia sabe quem foi Domingos Monteiro? Poucos, muito poucos. No entanto, foi um editor com peso no mundo literário com uma editora também pouco conhecida nos dias de hoje e já desaparecida há muito, a Sociedade de Expansão Cultural, a qual deu voz a muito autores nacionais, que ali encontravam abrigo. O próprio Domingos Monteiro foi escritor e com nome firmado na praça. Conhecido, principalmente, como contista, também escreveu poesia, história, doutrina e crítica, múltiplas novelas e o romance O Caminho para Lá. É este que comprei em segunda mão, a edição definitiva, a segunda, de 1958. A primeira data de 1947. Espanta-me sempre os milhares de exemplares que eram tirados. Esta segunda edição corresponde aos 5º e 6º milhares, o que significa que a primeira teve uma tiragem de 4000 exemplares. Números que hoje seriam astronómicos. Apesar de ser um óptimo escritor, Domingos Monteiro não era um dos grandes nomes da época e mesmo assim os seus livros vendiam-se muito. E não é caso único. Contudo, à medida que os portugueses se vão escolarizando, à medida que o ensino superior se vai democratizando, os leitores de literatura com um módico de seriedade parecem diminuir. Em torno da poesia gira uma pequena seita esotérica, sem qualquer ligação ao grande público. Diz-se que os poetas escrevem uns para os outros. Talvez seja assim. Temo, porém, que ao romance aconteça a mesma coisa. Curioso que o cinema, essa forma de narrativa romanesca com imagens, não matou o romance, mas talvez as séries do Netflix e semelhantes o estejam a fazer. Isto foi o que me ocorreu num dia em que pouca coisa me ocorreu.
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