Sem dar por isso, deixei que um terço de Novembro se tenha escoado. Cronos é um deus miserável. Sofre de uma acentuada bulimia, de um desejo convulsivo de devorar os dias, isto é, os seus próprios filhos. O pior é que, como efeito colateral, também nos devora a nós. Começar assim significa que não tenho nada para dizer neste diário. Como me acontece muitas vezes o cérebro começa a fazer curto-circuito e liga coisas que não devia. Lembrei-me do filme Querido Diário, de Nanni Moretti. Para dizer a verdade, já não me lembro nada do filme, apenas do título. Contudo, Moretti é um cineasta que me coloca, muitas vezes, problemas verdadeiramente existenciais. Por exemplo, quando me quero referir a ele e lhe chamo Nanetti. Ao dar-me conta do erro, que ocorre mais vezes do que gostaria, começo a pensar que já tive melhores dias, mas talvez mesmo nesses eu não seria grande coisa. Hoje comecei o dia antes das oito da manhã com um serviço de transportes. Fui buscar a minha mãe para a levar ao laboratório de análises. Depois, levei-a para casa. Ainda não eram nove horas já estava sentado a trabalhar. Confesso que o fazia com entusiasmo, embora tenha a certeza que o fruto de tanto labor será nulo. Isso, porém, é uma característica muito pessoal. Tenho uma acentuada inclinação para a nulidade, embora tenha outra para a verborreia.
Falando nele, não perca o último filme que já está nos nossos cinemas, intitulado "Três andares", eu gostei muito (mas desta vez não há comédia).
ResponderEliminar~CC~
Espero ir em breve vê-lo. Tanto quanto me lembro, mas vi-o já há uns bons anos, O Quarto do Filho também não tem comédia. Lembro-me apenas que me impressionou bastante e nunca quis voltar a vê-lo.
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