Revejo algumas reproduções de quadros de Jackson Pollock. Nunca me canso. Não é a técnica, drip painting, que me interessa, mas o resultado. Imagino sempre que se está perante uma visão daquilo que se esconde por detrás das aparências. Nestas a figura e o contorno são forças que impedem a visão de se confrontar com o caos originário. O que alguns quadros de Pollock fazem é mostrar que também no caos, naquilo que parece ser o resultado de gestos fortuitos, se encontra a beleza. Isto pode parecer paradoxal, pois a beleza é, por norma, associada à organização, à forma, à feliz disposição das aparências, as quais surgem ordenadas segundo uma justa medida. Uma das leituras da arte do século XX é que esta despediu a beleza. Talvez essa apreciação esteja radicalmente equivocada. Talvez a beleza se tenha estendido para domínios que antes seriam considerados não belos. Não sei se esta meditação pseudo-estética foi motivada pelas reproduções de Pollock ou por ser segunda-feira, aquele dia em que a realidade bate à porta, entra e senta-se até que chega a sexta-feira e ela vai de fim-de-semana. Demasiado contacto com a realidade não faz bem a ninguém, como se pode ver.
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