Uma birra monumental. Fui buscá-lo, ao meu neto, à entrado do prédio. Vinha ensonado e cabisbaixo. A coisa começou a meio da viagem de elevador. Abriu a boca e desatou a chorar. Não queria entrar em casa. Entrado, queria sair. Um grande problema afligia-o. Queria pôr a chucha no carro da avó que o deixara para ir tratar de assuntos urgentes. Tive de fechar a porta à chave, pois insistia em sair. Percorreu as várias tonalidades da tragédia grega. Chegou a atirar-se ao chão, mas achou que não valia a pena. Peguei-o ao colo, esperneou, fez-se de enguia para tentar fugir. Mostrei-lhe um presente que tinha para ele, nem olhou. Valeu-me a avó de cá. Com tantas peripécias, a energia foi-se gastando e o sono, que o atormentava desde o início, venceu. Agora dorme como um anjo, se é que os anjos dormem. Foi um começo de tarde exuberante. O sol já começa a declinar, toma a palidez por tom de pele, anuncia o crepúsculo e a noite que há-de vir, quando a porta ranger nos gonzos para ela, como se fosse uma rainha, entrar. Isto lembrou-me a ária da Rainha da Noite, na Flauta Mágica, do Mozart. Como eu gostaria que o meu neto, um dia, a visse comigo. Tenho ainda muitas coisas para tratar. Nem todos os sábados são dias de fim-de-semana. O pior, porém, é que não vou ter grande tempo para brincar com o rapaz, agora que a birra lhe passou. Acordado, será hora de lanchar e de o ir pôr a casa da outra avó. A vida é o que é e não o que se deseja, ou será o contrário?
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