Um concerto de moto-serras e corta-relvas. Os transeuntes passam indiferentes ao agrupamento musical que opera com zelo na praceta aqui em baixo. Também é verdade que eles não puseram um boné no chão ou estenderam um lenço para recolha de moedas. Estes concertos têm lugar, muitas vezes, ao sábado de manhã. Por volta das oito horas lá começa a sarabanda, não sem antes haver afinação de instrumentos. Uma forma de terrorismo psicológico. Já era tempo dos inventores dados à criatividade conceberem instrumentos destes que não fizessem ruído. Eu sei que os admiradores de música poderiam acusá-los de destruir sonoridades tão peculiares. Contudo, posso argumentar, também o silêncio faz parte da música. Se o ciclo sonoro fosse mais curto diria que estávamos perante um concerto de música minimal repetitiva. Contudo, o fraseado é sempre o mesmo, mas não tem efeito hipnótico. Agora, tenho de sair. Esperam-me e não devo chegar tarde. Esse é o meu hábito, mesmo que a minha vontade seja de chegar muito tarde ou, mesmo, de não aparecer. Mas lá estarei à hora. Nisto não há qualquer grandeza moral. Haveria, se isso se devesse ao meu livre-arbítrio, mas deve-se apenas a um hábito, e os hábitos, como se sabe desde Aristóteles, são uma segunda natureza. Logo, regidos pela estrita necessidade.
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