Está uma segunda-feira quaresmal. Um sol raquítico, algum vento quase frio, um sentimento de tristeza pelas ruas, as gentes sem ânimo a caminhar pelos passeios. O processador de texto onde escrevo insiste que devo grafar o nome dos meses com inicial minúscula. Sempre que opto pela maiúscula, ele, sem que eu lhe peça opinião, coloca um traço azul sob a palavra e dá a sugestão em letra minúscula. Ora, não me apetece segui-lhe a orientação. Os meses são entes importantes e, caso olhemos para uma vida, mesmo longa, não são coisas que abundem como grãos de areia. São sempre poucos e, por isso, preciosos. Logo, devemos dar-lhe um tratamento diferenciado, caso tomemos por comparação os dias da semana. Um carro azul flamejante passa devagar na rua, depois fica um vazio que demora a ser preenchido. Não há outros carros, nem bicicletas, nem pessoas, nem animais. Passados longos instantes, uma ambulância do 112 ocupa a estrada, vai vagarosa, mas também ela é engolida por aquilo que não vejo. De dentro de um carro cinzento, sai um homem. Devia ali estar há muito. Talvez a enviar mensagens no telemóvel. Sai e com passo decidido desaparece. A rua de que falo é uma lateral pouco concorrida da avenida. Num dos passeios erguem-se quatro acácias, ainda de ramos despidos. Não se ouve ninguém. Não haverá nada para ouvir, imagino.
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