Chegámos ao penúltimo sábado de Abril. A aplicação do telemóvel afirma, peremptória, que há 83% de probabilidades de chover. A verdade é que não se vislumbra água que possa precipitar-se dos céus. Continuo com falta de assunto. Resta-me apenas escandir o calendário e o clima. Estas duas palavras, que significam coisas tão diferentes, poderiam ser ambas substituídas pela palavra tempo. Esta, umas vezes, significa as condições meteorológicas num certo lugar e numa determinada altura ou, outras vezes, um certo período onde se dão acontecimentos. Sendo hoje sábado, penso não ser propício dedicar-me a uma meditação sobre a polissemia das palavras. Numa daquelas leituras estapafúrdias a que me dedico recebo a informação de que em 1900, metade dos membros da Câmara de Deputados de França era maçon, o que se celebrava numa anedota de gosto popular que insinuava ser a Maçonaria a Igreja da República. Há em todas as organizações secretas um reflexo da infância, daquele tempo em se brinca às escondidas ou que se cultiva o segredo como forma de afrontar os outros. Talvez esta tendência para o velamento e o segredo tenha sido uma vantagem competitiva na evolução da espécie e, por isso, os homens continuam a jogar às escondidas e a brincar aos segredos, muitas vezes de polichinelo. Os pássaros meus vizinhos estão cada vez mais audíveis. Conversam longamente, mas ainda não consegui traduzir-lhe a linguagem. Falta-me uma pedra de Roseta. Também é um facto que não sou um Champollion, mas ele também não seria o Champollion que é caso não tivesse tido o encontro com a pedra de Roseta. Não se pense que a pedra pertencia a alguma Rosa que tratavam pelo desagradável diminutivo de Roseta, em vez de Rosita ou de Rosinha. Não era. Roseta é o nome de um dos braços do delta do Nilo. Nem tudo o que parece é e a polissemia nunca deixa de nos perseguir. O telhado branco do pavilhão desportivo da escola aqui ao lado reverbera sob a inclemência dos raios solares. Não vai chover. Os 17% ganharão aos 83%.
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