A fragilidade da condição humana. Foi esta frase que, há pouco, me veio ao pensamento, mas já não consigo saber o que a terá motivado, que estímulo a desencadeou. Estamos habituados a que não existam efeitos sem causas e repugna-nos que uma frase dance na nossa consciência sem um motivo. Quando este não é aparente, existe um truque. Diz-se que foi uma motivação inconsciente. Não a conhecemos, mas ela existe escondida no mais recôndito do nosso ser. Assim como, na sequência de Aristóteles, os escolásticos afirmaram que a natureza tem horror ao vácuo, também nós temos horror ao imotivado e, ainda mais, ao incausado. Se um pensamento sem motivo nos perturba, muito mais perturbará um acontecimento sem causa. E se tudo fosse imotivado e incausado? Se motivos e causas fossem apenas grelhas de leitura que o nosso cérebro estabelece para podermos viver do modo mais sereno possível? Por exemplo, o cansaço que, neste momento sinto, seria muito mais perturbador se eu achasse que não tinha qualquer causa. Encontrar para ele uma causa permite-me descansar sobre o assunto. Está um dia de autêntica semana-santa. As minhas netas parecem agitadas. O cão com que foram presenteadas parece ser a causa desse estado febril. Ele, porém, é um cultor exímio da serenidade. De preferência, evita mexer-se e não me parece ser adepto da agitação com que elas o envolvem. Imagino que ele prefira meditar sobre a ausência de motivos e causas do que ser motivo ou causa de tanto alvoroço. Se a condição do homem é frágil, o que se há-de dizer da condição canina às mãos de uma humanidade frágil? Um sol triste ilumina uns adolescentes que correm atrás de uma bola nos campos de jogos da escola aqui ao lado. Ela foge-lhes e eles correm atrás dela sem se interrogarem por motivos e causas. O importante é marcar golos.
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