Um dia votado a tentar resolver coisas quase irresolúveis. Como se costuma dizer, o que não tem solução solucionado está. A verdade, porém, é que quase irresolúvel não é a mesma coisa do que sem solução. O quase irresolúvel pede tempo para se tornar solúvel e ser dissolvido. Num livro que tenho entre mãos descubro uma palavra extraordinária: inegalidade. O termo, claro, não existe no nosso léxico, mas no do tradutor de uma obra escrita em francês. O autor escreveu inegalité, o que se traduz por desigualdade. Com boa vontade poder-se-ia verter por inigualdade, o que seria uma negação de igualdade. Seria vocábulo possível dentro das regras de formação de neologismos, penso. Espantado com a tradução, procurei pelo nome do tradutor. Novo espanto. Não tinha. A tradução era atribuída de forma genérica à editora nacional. Que eu saiba nenhuma sociedade comercial, industrial ou de serviços, mesmo que seja uma editora de livros, consegue fazer traduções. Estas são feitas por seres humanos ou, hoje em dia, pelos tradutores automáticos baseados na Inteligência Artificial, que depois é corrigida pelos seres humanos. Perante isto, a minha vontade é deitar o livro fora e comprar a edição original. Ainda por cima, para poupar no papel, a nossa editora encolheu o tamanho das letras a níveis impensáveis. Devo estar com mau feitio. Deve ser fruto das coisas quase irresolúveis que tenho pela frente. E essas nada têm a ver com traduções assombrosas e a invenção lexical como solução da ignorância. Quanto ao tamanho das letras, talvez tenha de mudar de lentes.
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