Consta que chegou o fim-de-semana, e que será alargado. Assim como o universo – ou um universo – se expande, também é verosímil que os fins-de-semana se expandam. O problema é que, ao contrário do universo, sofrem logo a seguir uma súbita contracção. O mais dramático de tudo isto é que o venerável S. Pedro – santo titular da cátedra do clima – decidiu não emparelhar a expansão do fim-de-semana com a manifestação do bom tempo. Segundo me contaram, terá dito que andavam a queixar-se com falta de água, as barragens vazias, as culturas a morrer de sede, e que, para atender às súplicas, tinha de trabalhar por estes dias. Que não pensassem, por aqui, que era maldade sua. É um mal permitido por Deus, acrescentou, porque dá lugar a um bem maior. Por mim, aceito as explicações do santo e não protesto. Aproveito, para ir à janela ver chover, enquanto o dia se vai desvanecendo, perdendo o fulgor, deixando um rasto de tristeza nas ruas. Volto à questão dos títulos. Numa entrevista ao neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, o Público puxou para título a seguinte frase: Para o Universo adquirir a sua existência, precisou de um narrador. De um momento para o outro, a minha função de narrador está justificada. Faço vir à existência um universo. Não será um grande universo, mas também eu não sou grande narrador. Deixemos o meu pequeno universo de lado e concentremo-nos no outro, naquele que se expande. O que será esse universo, caso não exista um narrador? Será apenas, diz o neurocientista, uma gigantesca massa de informação potencial. Caso exista um cérebro, então este capta essa informação para gerar representações. Um teatro, digamos assim. Todas essas belas paisagens, todos esses luares, sob os quais os amantes passeiam incógnitos, de mãos dadas e com o coração a fervilhar, não passam de informação. Só existem para nós. Uma decepção. Há muito que me parecia que a realidade não era coisa que se recomendasse. Por mim, prefiro aquela narrativa em que existe um S. Pedro que comanda o clima e que hoje está a fazer chover – chuva autêntica e não informação potencial – sobre narradores e sobre os lugares onde não existem narradores. Ah… parece que a chuva também é uma representação a partir de informação potencial. Vou-me calar. Bem, uma última questão: será que a informação potencial está em expansão ou é apenas a nossa narrativa produzida pelo nosso cérebro?
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